sexta-feira, 14 de maio de 2010

Hannah Arendt

No momento em que a sociedade percebe um grande vazio político e as estruturas básicas dos sistemas de governo dão sinais de não suportar a evolução social em seus avanços e seus defeitos, Hannah Arendt vem ganhando destaque no cenário da literatura filosófica política. Aluna de Karl Jaspers, teóloga, judia-alemã, aproveitou a intelectualidade e a formação para relacionar conceitos dos grandes filósofos que até então vinham trazendo iluminismo ao mundo não sabendo que muitos horrores ainda viriam. A sua trajetória se constrói no momento mais conturbado da história moderna. Morando nos Estados Unidos ela vê o mundo ruir em guerras e terror por todos cantos. Abandonou sua pátria e sua língua mãe para ganhar a observação global da decadência humana do início do século. Irá morrer em meio a guerra fria que aquecia a hipocrisia governamental mundial e tentava curar as feridas da guerra do Vietnã. Já não havia mais tempo para explicar a Vida do Espírito que os homens ainda pensavam ter.
Ainda na Alemanha na inocência dos 11 anos, construindo seus remotos pensamentos de estranheza, observa a Revolução Russa marchando apressada para uma pretensa unidade total, e Stalin, despertaria rumos marcantes para o seu pensamento sobre o totalitarismo que se completariam mais tarde com Hitler. Talvez tão nova não entendesse a falta de humanismo do humano e defende a tese de doutorado do Conceito de Amor em Santo Agostinho. Ali ela já daria sinais de um grande questionamento político e a tentativa de explicar e sugerir alternativas para nossa sociedade atual. Mas ainda viriam duas guerras com terror e perseguição ainda maior. Entre guerras e países seu pensamento ganha o mundo.
A tentativa de explicar o mal ou a sua banalidade, não foi compreendida em Eichmann em Jerusalém que de certa forma fecha um ciclo de pensamento onde a moral e o fim da tradição está em jogo. Como julgar a responsabilidade? E lança ao mundo um grande questionamento moral intrigante e irritante à comunidade judia. Estariam os juristas prontos a suportar um julgamento nazista individual, ou um sistema de governo de uma nação, com base em seus princípios jurídicos tradicionais e passionais. Arendt percebe que o mundo não entende como os nazistas poderiam estar à frente de ações de terror e estarem ao mesmo tempo envolvidos como uma peça de uma engrenagem num princípio moral único.
Hannah Arendt propõe uma leitura atenta, não diferente de outros filósofos, implicando uma decodificação e ordenação do seu pensamento. As guerras irão lhe proporcionar um trabalho incessante em obras clássicas que soam como um alerta mundial ao desmoronamento da tradição e deformidades da natureza humana. Ela faz uma passagem nos principais filósofos alemães, buscando ali a origem dessa mudança contemporânea com a tradição, unindo Aristóteles, Sócrates e Platão aos alemães, Kant, Hegel, Kierkegaard, Nietzsche e Marx na tentativa de entender elementos como a tradição a vontade, a fé, a razão, a identidade ontológica. Logo após chega ao clássico de sua obra da criação do homem de si mesmo, pois a ação política não pode ser originalmente monológica como quer a razão pura, a Condição Humana trás a existência de três experiências humanas básicas, e como Celso Lafer bem coloca; “com Heidegger ela aprende que o pensar e o estar vivo constituem uma unidade que se funde”. Assim ela vai chegar ao lado fecundo do humano com sua coletividade, agindo conjuntamente na vida pública, permitindo a liberdade pela comunicação, vendo a política como uma questão de dignidade.

Texto de Ricardo Gomes Ribeiro

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