Segundo o filósofo, esta transformação influenciou claramente as culturas posteriores, sobretudo a moral sexual européia moderna, com o regime de aphrodisia[3], entendida como uma experiência greco-histórica dos prazeres, a substância ética da moral antiga, diferente da experiência cristã da carne e da experiência moderna da sexualidade.
Seu objetivo era de destacar as relações subjetividade/verdade de uma maneira mais geral, colocando-as na dimensão histórica e, sobretudo, mostrar que, com a evolução, o cuidado de si tornou-se um verdadeiro fenômeno cultural como princípio de toda conduta racional, em toda forma de vida ativa que queria obedecer ao princípio da racionalidade moral. Não se ignorando que ele sofreu uma série de outras transformações no cristianismo primitivo, medieval, no Renascimento e no século XVII.
O autor considera que existem dois preceitos: o epimeleia heautou que é o cuidado de si-mesmo, a preocupação consigo-mesmo, etc.; e a prescrição délfica da gnôthi seauton – fórmula fundadora da questão das relações entre sujeito e verdade – que quer dizer conhece-te a ti mesmo[4]; que em certo número de textos platônicos se conjugam, como, por exemplo, em Apologia a Sócrates. Em Alcebíades, no entanto, o gnôthi seauton sempre teve uma espécie de subordinação ao epimeleia heautou, como uma maneira de aplicação concreta da regra geral de ocupar-se de si-mesmo.
Encontramos, em Alcebíades, três condições que determinavam, ao mesmo tempo, a razão de ser e a forma do cuidado de si: 1- aqueles que deveriam se ocupar de si mesmos eram jovens destinados a exercer o poder; 2 – o objetivo era o bom exercício do poder; 3 – a forma exclusiva onde ocupar-se de si é conhecer a si próprio.
Em Platão, estas três condições, que Foucault chama, também, de “determinações” ou “limitações”, desapareceram. Primeiramente, os que deveriam ocupar-se de si não eram mais, exclusivamente, jovens políticos, mas todos poderiam fazer isso, sem importar-se com a idade ou o status[5]. Em seguida, não existia mais o único objetivo de bem governar os outros, mas o cuidado tem o fim em si mesmo: em Alcebíades o objeto do cuidado era o próprio cuidado, mas o fim era a cidade, mais tarde, o “si” torna-se objeto e fim. A característica exclusiva do cuidado de si se atenua e torna-se coextensivo à vida, em um conjunto mais vasto, o que podemos chamar de conversão, epistrophê – conhecer o verdadeiro, liberar-se – um movimento que pode nos conduzir deste mundo para outro[6] [...]."
Texto de CELUY ROBERTA HUNDZINSKI DAMASIO
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