sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Republicanismo como resposta ao Totalitarismo

"...Normalmente se explica o ressurgimento do republicanismo como uma tenativa de
correção do que se considera fracassos do liberalismo (apatia, falta de interesse,
individualismo extremado, corrupção etc.). O que leva a supor que, se o liberalismo não
tivesse tais efeitos colaterais, o republicanismo não ressurgiria.
Para ela, o totalitarismo tem origem no liberalismo. Ele nasce de uma sociedade
despolitizada, marcada pela indiferença em relação aos assuntos públicos, pelo atomismo
social, pela individualização, pela competição, onde as instituições políticas são apenas uma fachada para interesses privados1. Por isso, somente uma concepção da política que promova a atividade (agency) e a pluralidade pode impedir a volta dos regimes totalitários. A ênfase na atividade, a participação, é que lhe torna republicana; e a ênfase simultânea na pluralidade diferencia seu republicanismo dos outros. Portanto, o objetivo é mostrar que o republicanismo é um antídoto contra o
totalitarismo.
O totalitarismo não foi o mesmo em todos os lugares (nazismo, fascismo, stalinismo
etc.), foi mais como um espectro, com diferentes graus de intensidade e totalidade. O que faz o Estado ser totalitário é que ele pretende a mudança total e/ou controle total dos aspectos que julga politicamente relevantes. Ele faz isso para promover “uma concepção total da vida” (expressão criada por Gentile) e um Estado que seja uma comunidade organicamente coesa.
Se comparado ao liberalismo, o republicanismo caracteriza-se por enfatizar uma
tradição diferente, que remonta principalmente ao humanismo cívico da Itália renascentista. Essa tradição começa com Aristóteles e sua idéia de democracia participativa, passamos por romanos como Cícero e Sêneca, adquire substância com os humanistas cívicos e o Machiavel dos Discorsi e ganha novos adeptos com Montesquieu, Jefferson e Tocqueville.
Essa tradição enfatiza virtudes cívicas tais como a honra, a participação, a
simplicidade, a honestidade, a frugalidade, o patriotismo, a integridade, a sobriedade, a abnegação, a laboriosidade, o amor à justiça, a generosidade, a nobreza, a solidariedade, a preocupação com a situação dos outros, a busca da glória etc.. Em contrapartida, repudia como vícios a corrupção, a ambição, a avareza, o orgulho, o egoísmo, a prodigalidade, a ostentação, o cinismo, a covardia, a extravagância, o luxo (no vestir, comer, beber e decorar)etc.
A principal diferença entre o republicanismo e o liberalismo é a concepção de
liberdade política – e a liberdade é o conceito central para ambos. Para o liberal, a liberdade é a autonomia, a não-interferência do Estado ou de outros sobre os assuntos privativos do indivíduo. O Estado só está autorizado a intervir na capacidade individual para prevenção de dano, isto é, quando existir a possibilidade de dano a um terceiro. Portanto, o indivíduo é a entidade política essencial, a ele devem ser submetidos os outros elementos. A comunidade e o Estado existem em prol do indivíduo. Isso faz com que se defina claramente a linha divisória entre o que é público e o que é privado (âmbito do indivíduo) e se defina o Estado como simples garantidor dos direitos fundamentais e a liberdade como garantia dos direitos
fundamentais..."

Trecho do Livro de
Lincoln Frias
O Republicanismo como resposta ao Totalitarismo

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